Rastro indelével (08/10)

Quem escreve, escreve muito. Aproveita metade de um sentimento pra fazer uma poesia inteira. Amiúde, uma poesia de sentimentos passageiros, com prazo de validade, daquela que daqui há dois meses será um não-sei-o-que sobre algo-aí. Mas em cada poeta, em cada prosador, há frases feitas. Frases que a vida o ensinou, regências e léxicos que foram aprendidos através dos sentimentos que duraram e que ficaram. Soluções banais para expressar sentimentos raros. E usadas a todo momento pra mostrar o luto ou a alegria, acabam se tornando essa miscelânea de distinguidos iguais. Uma marca, uma assinatura disfarçada, figurante e protagonista do nosso livro em construção. Todo texto do mesmo autor é, ultimamente, o mesmo texto, reorganizado, ressentido, reamado, reembaralhado. É por isso que quando o fim de meus dias chegarem, embrulharei de herança um único texto, aquele meu último, que de um jeito ou de outro, carregará todos os sentimentos que eu tive na vida. E, até lá, acho que minha poesia está mesmo precisando me demitir como funcionário, os meus textos ficam muito melhor quando estão assim, sem mim.


Lucas.




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