Roda Gigante (12/10)


Dai que Nietzsche falava sobre um tal de Eterno Retorno que é meio frustrante, meio reconfortante. Que fica no meio termo entre o copo metade cheio e o metade vazio. E entre tantos meios e metades que são esses, é que parece que criamos a nossa identidade. Parece que moramos no tempo que se repete indefinidamente, quando quer:

Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência”. (A Gaia Ciência)

Ora, meio que faz sentido. Não somos cada vez mais afeto e cada vez menos afecto com o passar do tempo? Não criamos raízes tão profundas que a direção do nosso crescimento se torna linear e previsível? Ao contrário da criança que aprendeu a falar agora, não somos mais um mundo de possibilidades. Somos um mundo de escolhas forçadas e, ao mesmo tempo, consentidas.

O bem e o mal, o prazer e o sofrimento, são instâncias complementares da realidade. E como a realidade não tem objetivo, pois se tivesse já teria o alcançado, a alternância entre elas é constante. Dado que o tempo é infinito, tudo se repetirá, inúmeras vezes, em “loops” eternos.

Há um certo desconforto confortado nessa ideia. Mas há também a segurança da previsibilidade daquele seu amanhã vindouro. Quanto a mim? Que venha. Quero viver tudo de novo, de maneiras diferentes. Topar e escorregar nos mesmos lugares e rir das mesmas contradições. Parece que, no final das contas, entrar na máquina do tempo não é só uma ilusão.

Lucas.

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