Neuro-exército

Existem aquelas dores que não perecem. Que marcham ao nosso lado, convidando-se a tomar o arbítrio, quando assim for conveniente. Essa autoridade é um trauma de infância ou trauma de adulto. É algo que foi, ou alguém que foi, ou até um tempo desaparecido ou uma grande decepção. Sempre há esse anti-herói que está pronto para nos colocar em situações que nos deixam sem mãos, ou braços ou pernas. E sem cabeça.

E, por mais arteiros que sejam os marinheiros do meu navio, e todos os motins que a anarquia lhes permite, são eles, que a meu mando, navegam dois ou três oceanos repletos de marinhas monstruosidades e intemperanças pluviais. Minhas dores e medos são meu exército, que diariamente deseja assumir o controle de meu Estado. E para cada soldado das minhas faculdades mentais, e cada guerreiro de minha sentimentalidade, dou um bom dia dedicado, mostrando todos os dentes, oferecendo um pedaço de pão do meu café da manhã.

Porque eu sei, que ao final do dia, quando eu estender meu corpo em um leito duro ou macio, são esses mesmos soldados que me fazem dormir em paz na dor. Ou, até mesmo, em dor na paz.

- Dedico esse texto ao meu pai, que é a maior saudade que eu sinto na vida.

Lucas.