Da infinitude da perda
A perda não termina em si mesma. Uma vez em contato, ela se espalha, quase que viralmente, por todos os minutos. Toma-lhe no seu bom dia. Deixa-se clara em seus sorrisos, em seu cansaço. Ela finalmente se encontra com você em seu futuro. Faz-lhe acreditar que você já perdeu tudo que você ainda nunca teve. De modo que não há novas pessoas, não há novos amores. Não há novas amizades, novos vizinhos interessantes, nem novos colegas em potencial. Apenas há a perda, que nunca sucedeu, mas que sempre está acontecendo, silenciosa, no seu espírito.
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Grito sem vocativo
Sob um pano vagabundo, atrás de um véu discreto, podemos encontrar os sentimentos mais incríveis. Sei disso porque já andei por aí fabricando muitos deles, travestindo maravilhas. Maravilhas pessoais, daquelas que não interessam a ninguém ou causam apenas pena. Já tive sentimentos transformados em poemas, em presentes, em indiretas, ora, quem não? Mas essas não são demonstrações, são maquiagens. Meticulosamente organizadas para disfarçarem a beleza natural que as caracteriza. Mas, em certo momento, os poros precisam respirar. Acordar em uma cama confortável e ser simplesmente quem são. Parar de brincar de pique-esconde com a vida.
Os sentimentos permanecem em segredo, como se fossem, sozinhos, melhor compreendidos. Hoje ainda não é o dia. Não é o minuto. Provavelmente ainda nem é o ano. A verdade é que não tenho perspectiva alguma de quando poderei entregar no devido endereço uma carta a esse respeito. Uma carta que seja mais limpa que minhas trapaças e minhas negações. Por enquanto, ainda é secreto. Um segredo sem nenhum cúmplice. Mas um segredo que, por um breve minuto, pôde gritar de sua cela. Um berro sem nomes, com medo de ser atendido.
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Ciúme
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Poema para um dia de memória
se perde de vista a perspectiva do primeiro razante
se relega ao jovem a categoria de amante
de uma cidade monogâmica já encardida
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