Sobre caçadores e Deus (28/10)

Talvez já tenha chegado a era que devemos ficar abarrotados dos caçadores de afeto. Principalmente aqueles que invisivelmente esbarram na sua própria necessidade de mostrar-se abundante dele. Propagando-se discretamente ou forçosamente, salpicam imperativos naqueles que orgulhosamente deveriam ser considerados "queridos" e não preenchedores de necessidades individuais.

Ser carente é uma natureza óbvia, psicologicamente falando. Todos nós somos. A problematização da questão é em termos de auto-controle. Uns mostram que são, outros não. E aí continuamos achando que uns são e outros não, porque é sempre a aparência que dita os juízos mesmo. E talvez por causa disso que a relação direta entre carência e humanidade esteja ainda distante de ser considerada um juízo analítico, e cá estou eu argumentando que poderia até não ser mais um juízo sintético. Mas obviamente, o é.

É apropriado que seguremos as rédeas do cavalo em que estamos montando, não deixando que ele cavalgue apenas atrás de nossas necessidades imediatas ou pueris. A construção do auto-controle é, em parte, o que distingue alguém extremamente maduro de alguém extremamente débil. E uma hora temos que parar de nos preocupar com sermos completados com pessoas, arte, funcionalidade, e passarmos a exercitar nossa suficiência em si. E, em seguida, cuidar pra que não fiquemos muito niilistas depois.

A verdade é que a concepção de um Deus onisciente, onipotente e onipresente foi elaborada pra resumir que o conceito desta Entidade é que ela é independente de tudo e de todos. E apesar de, em última instância, ser um objetivo utópico para reles mortais, chegar mais perto dessa situação é se tornar mais Deus. O convite é esse. Deus é de quem chegar primeiro.


Lucas.

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